VOCÊ SABE COM QUEM ESTA FALANDO?
Você sabe com quem está falando?
Quem já ouviu essa perguntinha ardida em algum momento da vida, na certa deve ter tido, nessa ocasião – assim como eu tive – uma dessas raras oportunidades de experimentar os limites da paciência.
Quando alguém diz uma coisa dessas, de duas uma: ou se acha demais ou não tem absolutamente mais nenhum argumento que sustente a sua causa.
Levando em conta a primeira alternativa. Gente que acredita ser melhor que todo o resto da humilde raça humana, costuma sofrer de cegueira periférica seletiva. Explico… Trata-se de uma oclusão temporária de todos os sentidos – não apenas dos olhos – que impede a pessoa de ver à sua frente, ou ao seu redor, qualquer outra coisa que não seja a satisfação imediata da sua vontade. Ou receber de toda a gente uma idolatria ampla, geral e irrestrita.
Ainda em relação ao rei ou rainha da cocada preta… Não adianta querer dar a essa criatura o benefício do diálogo. Essa categoria de “pessoa” tem uma falha nas orelhas incurável: ouve apenas aquilo que lhes interessa ou convém.
Ahhh… e costumam funcionar igual aqueles “walkie-talkies” antigos, sabe? Tem um botão para falar e outro para escutar; mas, o botão de escutar costuma estar sempre com defeito. Sendo assim, não se desgaste à toa. Quando o falso monarca começar a discursar, finja uma dor de barriga e caia fora.
Agora, analisando a segunda espécie dessa gente que está interessada em saber se “você sabe com quem está falando”. Aquele tipo que usa essa porcaria de “frase de efeito”, por falta de recursos linguísticos ou intelectuais (ou ambos), para defender suas ideias. Ideias!? Pois é… esse monstrinho acha que pensa. E pior… acha que só o que ele pensa procede ou tem importância. E a sequela mais grave desse isolamento arrogante é a privação de conhecer o que se passa no mundo além das circunstâncias do seu próprio umbigo.
Portanto, em caso de ter a falta de sorte de topar com um tipo desses, lembre-se do que disse o queridíssimo professor Mário Sérgio Cortella em uma de suas maravilhosas, instigantes e sagazes palestras:
“ ’A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é ‘leite’, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria. A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes….
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies.
Uma delas é a nossa: homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Essa espécie tem aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você. Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. É por isso que todas as vezes na vida que alguém me pergunta: ‘Você sabe com quem está falando?’, eu respondo: ‘Você tem tempo?’
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