SER MULHER - VAI VENO.......

A maioria das mulheres não conhecem o prazer. Não gozam. Não parem. Não menstruam. Toda sociedade é organizada para servir ao prazer do masculino. Somos como somos por fruto de dores na alma, múltiplas violações.
Mulher tem que lavar a vagina com sabonete íntimo e passar perfume. Porque cheiro de vagina é sujo. Aliás mulher tem pepeca, piriquita, sei lá. Não tem vagina.
Logo, como parir? Estamos tão longe de nós mesmas, do nosso ciclo, dos nossos desejos. Estamos desunidas. Não cantamos se não for para seduzir. Não dançamos se não for para ser olhada pelos homens. Estamos afastadas das mulheres. Não comemos para não engordar, e nosso corpo é massacrado: depilado, cortado em cirurgias, pés amassado em salto, peitos esmagados em bojo.
Não nos tocamos. Não conhecemos nosso corpo. Já dissemos sim com medo de sermos rejeitadas. Tiramos o batom vermelho.
E por mais que façamos, nos sentimos em falta. Nos sentimos feias.
Mulher tem que servir ao homem. Ser mãe é feio. Vagina parindo é feio. Seio amamentando é feio. Bonito é dar prazer mesmo que não sinta. É peito durinho. Barriga chapada. É bebê chorando para dormir para voltar a ter vida conjugal.
Bonito é silicone, vida sem menstruar, pepeca com cheiro de sabão. Cumprir o padrão social sendo mãe, mas agendando a cesárea com escova e unha feita. Mamadeira.
Assim como dizem os tibetanos: vivem como se não fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido.
Mas o que vejo é: Dê a faminta mulher selvagem apenas uma oportunidade que ela sai e come a carne toda... E quando elas tem chance no parto, se empanturram.
Parto é um portal poderoso que une vida, morte e sexualidade. Gritam, xingam, rebolam, beijam. Sentem dor sim até aceitarem o prazer. Pode não ser no parto em si, mas o prazer vem com a realização. O parto despe, desperta. Basta uma pequenina chance.
Mas a mulher selvagem pode despertar de muitas formas: em um projeto que sai da gaveta, diante da morte ou doença. Ou num dia sem motivo que se sai para comprar pão na esquina, e com a faca e o queijo na mão, se descobre a fome.
E um segredo: estamos tão presas... Uma mulher que acorda desperta uma comunidade inteira."
Texto original: Kalu Brum
Releitura: Gabriele Garbin
Obrigada Suely Arantes você é fodástica!! <3

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