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A DROGA E O CRIME ORGANIZADO
Deixando os aspectos históricos da sua origem, e passando-se para uma análise atual do tema, tem-se a esclarecer apenas inicialmente que ninguém nasce bandido e ninguém nasce usuário. Entretanto, com certeza, se virar usuário e não tiver renda para o vício, provavelmente ter-se-á um bandido, bandido esse que começa como um pequeno traficante, ou como um pequeno roubador ou furtador, e depois de adquirir certa experiência no crime e ter contatos com outros na Febem e nas cadeias, aliado a uma personalidade pervertida (drogas mais perversão e má índole) será tragado pelo crime organizado, que hoje, apesar de ter sido desestruturado pela polícia, é constituído ainda por outros que tiveram a mesma trajetória. Se nessa estória não existisse droga, certamente não existiria o crime (a má índole normalmente, por si só, não leva ao crime).
Por isso, dificilmente há no crime organizado integrantes que não sejam viciados em drogas (até seus principais líderes). Praticamente todos tiveram a mesma trajetória: começaram como viciados e pequenos criminosos, e posteriormente, quando da passagem pelo estabelecimento prisional, aliado a má índole individual, foram captados por organizações criminosas. Logo, tem-se um raciocínio lógico: se não houvessem entrado nas drogas, não teriam ingressado no crime, e muito menos no crime organizado. E porque tanta união do crime organizado? A resposta está nas drogas e no vício. A droga é que dá a liga, proporciona a união entre todos e a perda da dignidade.
Acrescenta-se, ainda, que alguns crimes de natureza política-administrativa podem até financiar ações do crime organizado, mas a avassaladora quantidade de crimes cometidos pelas organizações criminosas se originam das atividades ilícitas dos seus próprios integrantes diretos (todos eles praticamente viciados em drogas), os quais praticam tráfico de drogas, contrabando de armas, roubos, seqüestros, etc, tudo com a finalidade de angariar recursos para as suas ações delituosas. Conclui-se, portanto, mais uma vez, que se não fossem viciados não estariam no crime organizado.
Tal raciocínio vale para quase todos os criminosos, e por essa razão, quando se prende um traficante-usuário (ou usuário-traficante, como queiram) um outro vai substituí-lo (muitas vezes, um que era mero viciado no grupo é coagido a assumir o negócio); entre eles há um elo e quando um é preso, o outro assume (até, muitas vezes, para pagar o advogado do outro). Destarte, prender é muito importante, pois desestabiliza um determinado grupo; porém é bom saber que isso ocorrerá até que um outro viciado abarque o negócio. Essa regra, também, vale para o crime organizado, ou seja, quando um “peixe grande” é preso, um outro logo o substitui (é como se fosse uma empresa), e assim sucessivamente.
Isso, muito embora exista, jamais poderá desestimular a Polícia e a Justiça, porque se não houver repressão, não haverá uma resposta penal e nem desestímulo para que outros ingressem no crime (aspecto preventivo da pena). Acrescente-se, ainda, que só não dão “trabalho” para a polícia aqueles que sustentam esse vício pernicioso e que, consequentemente, não precisam buscar no patrimônio alheio e nem na venda de drogas o sustento para o seu próprio vício. Faltou dinheiro, pode ser filho de quem quer que seja, pode ser rico ou pobre, a droga fala mais alto e há a perda da dignidade. No começo o crime se dá somente para sustentar o vicio; depois, com as facilidades econômicas advindas, virará meio de vida, migrando alguns, como dito, para o crime organizado, pois, além de má índole, são também viciado, e, por essa razão, facilmente manipulados.
Autor do Artigo: Cap PM Marcelo dos Santos Sançana – Comandante da Polícia Militar de Porto Ferreira.

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