ESPERANÇA - UMA PALAVRA PROFUNDAMENTE TRISTE
Embora me classifique como uma idealista pois acredito que podemos tornar o mundo melhor, concordo com Nietzsche que a palavra esperança é profundamente triste, pois quem espera ainda não tem o que deseja. Pois quem espera não tem certeza se vai conseguir o que vislumbra. Viver na esperança é viver no futuro e o futuro não existe, como afirmou Renato Russo.
Para Nietzsche a vida que vale a pena é a vivida no presente, o único tempo real pois o passado já acabou e o futuro quando chegar se tornará presente. E mesmo quando lembramos de um fato, lembramos no presente. Enfim, revivemos um sentimento no aqui agora.
A esperança é a condição de quem projeta demais, de quem cria expectativas e deixa de viver o momento. Em nome do vinho que talvez tomaremos semana que vem, deixamos de saborear a cerveja gelada que olha sedutoramente para nós neste minuto. Em nome de um compromisso que talvez tenhamos em algumas semanas, preservamos uma roupa nova e deixamos de usá-la no programa que faremos ainda hoje. Para poupar dinheiro para a velhice, deixamos de fazer coisas que são importantes para nós neste momento. Em nome do amor perfeito, deixamos de viver o amor possível aqui agora.
Quem espera datas e condições ideais para se divertir, para amar, para ser feliz, corre o sério risco de nunca viver nada importante, forte e expressivo.
Viver na esperança é viver numa fria ante sala médica, sem saber realmente se seremos chamados até o final do dia. Quem espera demais por um apetitoso prato de strogonoff , pode deixar de apreciar uma boa lasanha. Quem espera o momento perfeito para dizer "Eu te amo", talvez nunca diga. Talvez o momento ideal nunca chegue ou ainda quando chegar, talvez o amor não seja mais possível. Quem espera o ano inteiro para descansar e se divertir, em vez de espalhar um pouco de lazer por todos os dias do ano, corre o risco de idealizar demais as férias e se desapontar com qualquer coisa.
Sim, esperança é uma das palavras mais tristes deste mundo. E a oferecemos com tanta generosidade nas mais variadas situações como o mais rico e fino presente. Talvez devêssemos dizer em aniversários e passagens de ano: Te desejo muita vida, muito aqui agora!
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