AMAR É QUERER MISTURAR-SE
Amar é vontade de se misturar. De confundir o próprio corpo no corpo do outro. Entrelaçar as mãos, trançar as pernas, alcançar os olhos. É desejo de lamber a pele pra saber do gosto, pra provar o sal. É dividir o sono e o sonho, taras de tarde de chuva e descompromisso. Amar é querer se afundar nos cabelos e pelos do outro pra descobrir o cheiro. E desfalecer com a cabeça em seu umbigo tentando capturar o que há ali no meio.
Amar é mergulhar na umidade da superfície e do sexo do outro com intuito de se dissolver nas suas cores como um suspiro suave atravessando uma canção. É ceder à carne e ao gozo buscando apreender a alma. Amar é adivinhar palavras contornando os lábios do outro com os dedos. É querer acordar do lado pra dar bom-dia e beijar as suas pálpebras semicerradas quando amanhece. Amar é saltitar com o peito alucinado e dançar jazz com um sorriso ébrio estampando a face. E colar sua boca na boca outra pra respirar o hálito. Encostar os cílios pra elucidar o engenho do olhar. Esfregar um pé no outro pé na madrugada fria.
Amar é quando o ouvido se abre pra captar a voz do outro e se aviva quando a encontra. É querer cantar à toa por aí. É anseio de abraçar e nunca mais soltar. É preferir estar junto. Amar é se dissipar no tato do outro. Na ponta dos seus dedos ou da sua língua. Idealizar a trama enquanto o corpo se entranha. É se derramar no líquido, no suor e na saliva pra se miscigenar, pra deixar de ser dois e ser uno. É compartilhar o delírio. Abrir todas as portas. Amar é se entregar sem volta.
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TEXTODE BRUNA REGINA PIETHA ABRAHÃO
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