RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE.

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O coração tem razões que a própria razão desconhece. Famosa frase do francês Pascal, que, aliás, era um gênio e estudioso de várias áreas: física, matemática, filosofia, teologia.
Quando passamos ou presenciamos alguma catástrofe, seja ela aérea, natural ou um trauma de caráter individual, mergulhamos no mar da angústia e do desconhecido, parece-nos nada fazer sentido, tentamos racionalizar, entender, refletir. Tudo em vão.
Só o que percebemos é que fomos atropelados por um caminhão e não tivemos tempo de anotar a placa porque, afinal, quando levantamos a cabeça, ele já havia indo embora deixando sua marca em nosso corpo.
Aos poucos vamos percebendo que especulações filosóficas não funcionam muito bem para consolar nossa alma abatida. Sentimos coisas que não entendemos e fazemos coisas que não sabemos explicar. Será o bendito inconsciente nos guiando? Talvez sim, e talvez a razão tão aclamada, pode não ser tão segura como pensávamos.
Conheço pessoas, inclusive algumas dessas se vestem de psicólogos, que aparentam força, mas por dentro são meninos assustados. Orgulham -se de tudo o que estudaram, dos títulos que receberam e de serem seres extremamente racionais. Não raramente humilham quem não é “digno” de estar ou pensar como eles. Esses têm o coração gelado, não conseguem tocar a alma humana, só tocam o que pode ser explicado, isto é, a razão que não vem do coração.
Em tempos difíceis como os que estamos vivendo, com tragédias políticas, naturais e sociais, talvez possamos começar a pensar sobre nossa limitação humana para nos fornecer algumas respostas. E que a razão pode falhar no propósito de aquecer o coração.
Devemos entender urgentemente que primeiro você abraça a pessoa sofredora e depois entende a causa do problema. Primeiro acolhe e silencia sua alma para ouvir a outra, depois (se precisar) procure explicação. Primeiro você dá abrigo ao sobrevivente da enchente, depois calcula as perdas e protesta contra os culpados. Responda-me: Você já conseguiu consolar uma mãe que perdeu seu filho explicando como o filho morreu? Ou dizendo que ele está em um lugar melhor? Tais explicações até podem servir de consolo, mas não no momento imediato à perda.
Vemos muitos estudiosos com um grande talento para teorizar a vida, sem “experimentá-la”. São bons tecnicamente, mas vazios de afeto humano. O psicanalista Jung poeticamente arremata: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
É claro que não podemos a todo tempo viver impulsivamente, apenas das emoções que sentimos sem uma reflexão de como agir. O estrago também pode ser grande. Em outro momento, o próprio Pascal pondera que existem “dois excessos: excluir a razão, admitir apenas a razão”. O mundo precisa de técnica, mas a empatia tem que vir antes.
Precisamos das pessoas para vivermos, sobrevivermos e significarmos nossa existência. Precisamos também de silêncios para suportar a tragédia e ouvidos atentos para os enlutados. Precisamos mais de presença do que de dados, teoria e verborragia. Se você é uma pessoa que não se importa, não gaste suas energias fingindo compaixão para ficar bem na foto, nas redes sociais ou com a sociedade. Qualquer ser humano percebe quem está a fim de ficar perto da gente de verdade e quem só está ali para mostrar a cara e ir embora.


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