NÃO SE APEGUE AS COISAS MATERIAIS

Não guarde nada para uma ocasião especial porque todos os dias são especiais. Tome água numa manhã de segunda-feira difícil naquela taça de cristal. Vá trabalhar com sua melhor roupa quando sentir vontade. Não deixe nada para amanhã porque ele pode não chegar.

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As taças também servem para serem quebradas. Não deve ser justo que vivam mais do que nós. As coisas servem para serem usadas e por isso devemos ter apenas o que realmente usamos. Cem pares de sapatos para um par de pés parece não fazer sentido, mas se você os tem, use todos eles. Não guarde nada para uma ocasião especial porque todos os dias são especiais. Tome água numa manhã de segunda-feira difícil naquela taça de cristal. Vá trabalhar com sua melhor roupa quando sentir vontade. Não deixe nada para amanhã porque ele pode não chegar.
Usar tudo que se tem e ter somente o que se usa pode nos ajudar a acumular menos e a ter menor necessidade de comprar mais do que se precisa. Relatos de colegas que trabalham atendendo pacientes acumuladores me ensinaram que uma das características deles é quase nunca usar o que adquirem. Não deve ser saudável comprar o que não se vai usar. Nem comprar para “guardar”, nem para usar quando houver uma oportunidade. Compre e use, use o que comprou. Não se apegue às coisas, nem lamente quando as louças ou os cristais se quebrarem. Comemore porque foram usados - é para isso que servem. A vida é traiçoeira conosco. Tive tanto apego aos meus CDs e hoje olho para eles e não consigo conter o riso de pensar que todas aquelas músicas cabem em uma geringonça menor do que a palma da minha mão. Parece que o fim de todas as coisas é não ter valor algum. Mesmo as que estão nos museus, às vezes me dão “gastura”. Quando estive em Liverpool e vi, daquela distância segura, o piano branco do John, dentro do museu The Beatles Story, pensei na hora: “O que vale ver esse piano agora, mudo?”. Chorei é claro, mas queria John vivo tocando em qualquer piano.
Quero levantar um brinde a todas as minhas taças quebradas, às que ainda restam na cristaleira e que quero usar e quebrar ao longo da minha vida. Quero comemorar por estar viva para usar as roupas lindas que compro até que fiquem velhas e também pelos sapatos e as botas que já gastei e que ainda quero gastar andando pelo mundo. Quero agradecer pelo tecido do meu sofá todo manchado pelas estripulias do meu filho e também por todos os enfeites que ele quebrou e que não me fazem a menor falta. Sou feliz por todos os tecidos da minha casa que meus gatos rasgaram ao longo desses anos todos porque uma casa com tudo intacto e no seu devido lugar é uma casa sem vida e a mais linda taça de cristal não vale nada se não for usada.

VIVIANE BATTISTELLA

Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura.


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