E A TAL FELICIDADE ONDE MORA?
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IEm algum momento da vida você já deve ter se perguntado, ainda que de maneira tímida: Eu sou feliz? Quem nunca fantasiou uma vida ‘incrível’ vendo um filme na TV? Aliás, toda criança cultiva fantasias ainda que diante de uma realidade cruel.
Dentre as personagens que já conheci em meu limitado repertório literário, há uma personagem que me faz crer e esperançar na vida: Macabéa, de Clarice Lispector. Uma nordestina, que vivia no Rio de Janeiro como datilógrafa, morava em um pequeno quarto sozinha, ouvia todos os dias a Rádio Relógio, no momento da “hora certa e cultura” e aquilo que ouvia a fazia questionar, a fazia buscar um sentido, algo que tornasse a sua vida mais doce, os seus dias mais valorosos. A obra foi nomeada pela escritora de ‘A Hora da Estrela’, mas creio que melhor nome, mais poético e generoso não poderia haver.
Macabéa como qualquer ser humano nesse mundo tinha um sentido em existir, um sentido que ela levou a vida toda para descobrir qual era enfim. Nós vivemos em tempos difíceis em que a mediocridade reina, ter algo definitivamente diz tudo sobre alguém. As pessoas são felizes em redes sociais, são felizes quando ‘mostram’ ao próximo suas virtudes.
Passam a vida buscando a tal da felicidade, creem que ser feliz está no excelente emprego, no bom salário, nas muitas viagens, nos amores passageiros e mais líquidos do que o sociólogo Bauman suporia. A vida toda em uma vida de busca, busca pela felicidade, felicidade que precisa ser contemplada, que precisa ser reconhecida legitimamente pela sociedade, como quando alguém que realizou milagres é canonizado porque provas foram apresentadas de sua vida santificada a Deus.
E para ser feliz é preciso ter mais do que felicidade, é preciso ter bons motivos para ser feliz… Há alguns dias eu estava me perguntando sobre o que de fato fazia sentido em minha existência e a resposta que obtive foi singular: Existir.
Ser feliz não depende da sua carreira profissional, dos seus inúmeros diplomas, aliás, para ‘ser gente’ não há curso de capacitação. Ser feliz não depende de quantas viagens já realizou; de quanto dinheiro tem; de boas bebidas que já apreciou; não depende apenas da sua saúde; não depende de uma vida superficial de fotos estáticas e sem alma. Ser feliz, de antemão lhe esclareço com minha pretensão interminável: não será possível todos os dias. Você não pode gozar dias felizes todos os dias, essa rotina lhe cegaria os olhos e lhe faria profanar a sublime felicidade ao invés de aproveitá-la com gratidão.
A felicidade está no barro, está no pó, está nos rabiscos de giz da infância que jamais poderão ser apagados por tinta fresca. A felicidade está no brilho intermitente de uma estrela solitária, uma estrela que brilha de uma maneira tão sublime que faz uma criança em algum lugar de assolação no mundo desejar continuar sonhando, por que se em um mundo de misérias, estrelas ainda brilham, é porque há esperança no exercício de existir.
Aliás, ser feliz é simplesmente existir, respirar, exalar e acredite, ser feliz é resultado de fracassos, de lágrimas, de dor, de nãos e de olhares que tentaram lhe apagar o brilho. Assim como foi com a personagem Macabéa, A Hora da Estrela nos aguarda, porque o brilho já existe, mas é só quando se considera o pó, o cru e o barro, só assim é possível resplandecer.
Fonte: Escrito por Daiana Barasa via Grupo Sare
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