CORUJAS- UM AMOR INCONDICIONAL
Corujas, há muito tempo envoltas em mistério, começam a se revelar
Apesar de sua popularidade, apenas recentemente cientistas começaram a entender melhor o que faz das corujas serem tão diferentes de outras aves
No dia seguinte a uma noite gelada e estrelada que passei com David Johnson, do Projeto Mundial de Corujas, nos bosques de Alexandria, Virginia, ouvindo os gritos estridentes e chorosos de corujas-barradas selvagens que permaneceram fora de vista, fiz uma parada no Zoológico Nacional por volta do pôr-do-sol para observar as aves que eu tinha escutado.
As duas corujas-barradas ( Strix varia ) ainda estavam despertando e pareciam maiores e mais majestosas do que eu esperava, com camadas densas de plumagem café-com-leite e o pescoço envolto por 43 centímetros de penas pomposas, elisabetanas. Como qualquer bom membro da realeza, elas me ignoraram.
Isso, porém, apenas até eu pegar meu telefone e usar o aplicativo Birdcall para tocar o canto da coruja-barrada. Os olhos lânguidos da fêmea se abriram. A cabeça do macho girou em 180 dos 270 graus que a rotação da cabeça de uma coruja pode alcançar.
No Brasil: Coruja rara é registrada em fazenda no interior de São Paulo
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Com o olhar distinto e voltado para frente que pode fazer as corujas parecerem tanto um ser humano quanto uma ave, a dupla barrada olhou para mim. Toquei novamente o canto. O macho ficou entediado. Eu estava prestes a guardar o telefone quando de repente a fêmea – a maior das duas corujas, algo comum entre as aves de rapina – lançou o corpo para frente, levantou suas asas pesadas e magníficas e respondeu a plenos pulmões ao canto gravado que eu havia acabado de tocar.
Após uma breve pausa, ela emitiu a sequência de oito notas mais uma vez, momento em que um impressionado frequentador do zoológico parou para aplaudir.
No imaginário ocidental, a coruja certamente disputa com o pinguim o título de ave favorita. "Todo mundo adora as corujas", disse David J. Bohaska, paleobiólogo do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian, que descobriu um dos mais antigos fósseis de coruja. "Mesmo os mastozoólogos adoram corujas."
As corujas são uma figura-chave dos livros infantis e um elemento importante da cultura kitsch, podendo cortejar gatinhas em barcos – como em "A Coruja e a Gatinha", de Edward Lear – e entregar a correspondência da turma de Harry Potter, arqueando a sobrancelha para pedir biscoitinhos em retribuição. Apesar de toda essa familiaridade aparente, os cientistas começaram a entender essas aves detalhadamente apenas recentemente, assim como a decifrar as sutilezas de comportamento, biológicas e de destreza sensorial que as distinguem de todas as outras tribos de aves.
Outro lado: Harry Potter é culpado por extinção de corujas na Índia
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Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que os filhotes de corujas-das-torres podem ser impressionantemente generosos uns com os outros, cedendo regularmente partes de seu alimento para seus irmãos menores e mais famintos – uma mostra de altruísmo que acreditamos ser rara entre os animais não humanos, e que muitos caçulas humanos podem invejar.
Os cientistas também descobriram que as corujas expressam suas necessidades e desejos entre si por meio de uma complexa e regrada série de cantos, trinados, latidos e pios, uma língua que os investigadores estão agora tentando decifrar.
"Elas falam a noite inteira e fazem um barulho enorme", disse Alexandre Roulin, da Universidade de Lausanne, que recentemente publicou um estudo sobre o altruísmo entre corujas no periódico Animal Behaviour com sua colega Charlene A. Ruppli e com Arnaud da Silva, da Universidade da Borgonha. "Nós nunca colocaríamos caixas de nidificação na frente do quarto de um fazendeiro, pois ele não conseguiria dormir."
Outros pesquisadores estão monitorando a vida de algumas das mais raras e inusitadas corujas que existem, como a ameaçada coruja-peixe de Blakiston, da Eurásia. Com quase um metro, pesando até 4,5 quilos e com uma envergadura de 1,80 m, a Blakiston é a maior coruja do mundo, uma ave de tamanho tão pouco comum que muitas vezes é confundida com outras coisas, de acordo com Jonathan Slaght, do programa da Sociedade de Preservação da Vida Selvagem da Rússia. Em uma árvore, ela poderia facilmente parecer um urso; em uma ponte, poderia ser confundida com um homem, talvez com Ernest Hemingway.
Esse poderoso predador pode capturar um salmão adulto duas ou três vezes mais pesado que ele próprio em um rio, às vezes se agarrando a uma raiz de árvore com uma das garras para ajudar a arrastá-lo.
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