O PESO E O PREÇO DA MENTIRA

Qual a vantagem de ser íntegro quando o malandro é o ambicionado esperto que sempre se dá bem enquanto resta apenas o desonroso papel de trouxa ao mané pé-rapado que só leva uma passada de perna atrás da outra?


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Mentir é uma das palavras que desde cedo mais nos acostumamos a manter naquele seleto canto de coisas que não devemos fazer. Certamente muitas outras ajudam a entulhar esse armário de ruindades, mas poucas interferem tanto no nosso dia a dia como a mentira. Uma criança geralmente não terá muita dificuldade em aprender que não se pode machucar o colega ou que pegar aquilo que não é seu é errado. Porém, mesmo sabendo que também deva dizer sempre a verdade, uma boa parte não hesitaria em declarar a sua inocência quanto àquela mordida encontrada no bolo mesmo que os seus lábios estivessem empesteados de chocolate ao redor.
A pessoa cresce, desenvolve-se. E parece que o conceito vai evoluindo junto. Ou melhor, regredindo: apesar de ainda valorizar a verdade da boca para fora, o que ganha cada vez mais força é aquele jeitinho. A inconfundível lei de Gerson. Quem se dá bem é sempre o esperto: seja na novela, seja nos negócios, seja na política. É ele quem está no foco da mídia, na crista da onda. Uma onda que tende a arrastar toda uma sociedade... Qual é o valor da honestidade quando a malandragem é idolatrada? Ou melhor, o que é realmente ser honesto? Esta é uma questão que parece simples, mas na prática é bastante duvidosa.
Warning_sign.jpg As letras miúdas só vão ficando cada vez mais apagadas com o tempo...
Afinal, quando o escândalo é descoberto e as máscaras dos culpados inevitavelmente caem, ninguém hesita em esculachar: “Bem feito, fulano é desonesto, então merece ser punido”, “Beltrano é ladrão, o lugar dele é atrás das grades”, “Não dá mesmo para confiar em ninguém dentro desse covil de ratos” e por aí afora. Todas as acusações seguem essa mesma linha de apontar um culpado externo, só quem está bem inacessível é que pode ser o responsável por tantos males juntos. E o que acontece? Podemos tanto ignorar a situação como um caso irremediavelmente perdido quanto reagir de alguma maneira mais ativa, seja nos revoltando, fazendo valer os nossos direitos ou simplesmente reclamando da desonestidade alheia. Eles são culpados, eles são aproveitadores, eles são, eles são... E pobres de nós, somos apenas humildes mortais e indubitáveis vítimas do destino. Só que não, ouso dizer.
Novelas estereotipadas só existem porque existem telespectadores, empresas fraudulentas só prosperam porque há consumidores as sustentando, políticos corruptos só têm vez porque são apoiados pela maioria do eleitorado. Ah, mas eu não tenho nada a ver com isso, não tinha mais nada para ver na TV, esse produto ainda é melhor que os outros, esse deputado não cumpriu o que prometeu, não tinha outro melhor... Mas e você, cara pálida, o que fez para mudar todo este cenário do qual tanto reclama? Algo realmente diferente das ações que acusa tão veementemente?
Digo tudo isso após ler um interessante conceito elaborado pelo filósofo Osho: a ideia de que você é o mundo. Toda a realidade que vivemos é o mais puro reflexo de nós mesmos. Se cultivamos pensamentos positivos, se estamos bem internamente e agimos com intenções altruístas e desapegadas para com os outros o mundo ficaria mais harmônico e equilibrado. Assim como pensamentos ruins e a difusão de sentimentos negativos tendem a degradar o ambiente e deturpar o balanceamento das coisas. Dessa maneira, mesmo que você contribua positiva ou negativamente, é você quem está sempre no comando. Cada um colhe exatamente aquilo que planta. Bem que Henry Ford já dizia que “se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo”. Se eu quero ou se você quer, o mundo também quer. Seja o bem, seja o mal, a única coisa que dá para saber é que tanto eu, quanto você e o mundo iremos sofrer as consequências devidas por todas as nossas escolhas.
Você é o mundo. Quanto mais acusamos o outro de irregularidades, no fundo mais estamos acusando a nós mesmos por corroborarmos com a desonestidade. Afinal, já virou banalidade: a pessoa incentiva a pirataria, falsifica a carteirinha da faculdade, finge dormir no assento dos idosos, engana o/a companheiro/a e ainda se acha no pleno direito de apontar o dedo a um grande sonegador de impostos de várias identidades e contas ocultas que ousa não admitir (pior ainda quando admite) todas essas ilegalidades. Qual a diferença? Quem adere à desonestidade já nas microcoisas está apenas à espera da oportunidade ideal para alcançar as macrocoisas. A escala não interfere na mesma intenção caluniosa de ambos.
Big_and_Little_Shoes.jpg Diferentes, mas nem tanto assim...
Você é o mundo. Não adiante fugir da realidade: o mundo só é o que é por sua culpa, por minha culpa, pela nossa culpa. Porém, se o nosso cotidiano é tão pleno de desonestidade, o que podemos fazer para consertar? O primeiro passo não deve ser diferente do que simplesmente dar o valor que a integridade de caráter merece. Depois surge a prática.
Mas como ser honesto a todo o tempo? Como separar a verdade da mentira como se separa o joio do trigo? Esse limiar pode realmente não ser nada claro. Por isso você deve ter sempre uma base muito rica para comparação: princípios. É essencial não tomar nenhuma atitude precipitada enquanto você não possua os seus próprios princípios bem estabelecidos. Estes é que devem ser os guias a orientar as nossas atitudes para que não perambulemos sem rumo por um mar bravio.
O que é justo com você? E com o próximo? E com o mundo? O que se encaixar nos três itens já deve ser uma boa solução.
Mas tudo isso não deixa de ser uma grande sugestão. O que já é um caminho. E por isso já é uma possível maneira para que deixemos de enganar a nós mesmos a partir do fortalecimento de nossas próprias raízes. Afinal, não existe revolução que não comece de dentro para fora.


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