COMO FALAR DE AMOR EM TEMPOS DE BATATA FRITA.

O amor não vem na bandeja, nem pode ser servido em fatias ou porções. Não se pede pelo amor; é ele que vem. Não se busca; é ele que encontra. Há que se ter paciência porque ele não diz a hora que vai chegar. E num tempo em que entramos na fila e pedimos a comida pelo número no balcão, que bebemos o café pela metade e abraçamos de lado, confesso que não sei bem como falar de um tema tão profundo.

Li um livro, indicado por uma amiga, antes da virada do ano, chamado ‘Uma Arte de Amor Para os Nossos Tempos – o cântico dos cânticos’, de Jean-Yves Leloup. Tem uma parte do livro que diz que “(...) para beber o vinho do amor é preciso antes cuidar de si. É preciso primeiro cuidar de si mesmo, amar a si mesmo para poder cuidar do outro.” E outra que diz: “Para aprender a amar é preciso sair dos seus hábitos, sair do conhecido. Começar a amar é entrar no desconhecido, é sempre uma aventura. É preciso sair das representações de si mesmo, das maneiras infantis de amar, para conhecer a liberdade do amor.”
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E, pelo menos para mim, tudo isso leva tempo para se aprender.
Amar é sentir. Sentir com o coração. É aquilo que só transborda quando já está cheio. E leva um tempinho para encher.
Quanto mais rápido a gente quer que ele apareça, mais ele vai se esconder. É assim que ele faz. Ele não gosta de ser procurado. Ele aparece quando a gente desiste da fila e volta para a casa. Então tem mesmo é que ter calma. Não dá para se esperar como quem espera ser atendido na fila de um banco, batendo o pé no chão como se a fila fosse andar mais rápido.
Jean-Yves Leloup escreve em seu livro que o amor é um estado de escuta; um estado de atenção. Penso que o amor seja isso mesmo e, por isso, tenha que ser servido aos poucos. Não dá mesmo para pedir pelo número da promoção.
Talvez o amor seja encontrar tempo para saborear um café quentinho no fundo de uma livraria do seu bairro, mesmo quando a maioria das pessoas está comendo em pé atrás do balcão. Nem todo mundo está disposto a esperar ele chegar. Há quem acredite que ele seja produto de prateleira. É escolher, pegar e levar para a casa, mas o amor está mais para aquele livro raro, escondido no fundo da loja, camuflado entre tantos objetos iguais na forma e no tamanho, mas não na leveza.
Amor é espera. É silêncio. O que se encontra nas prateleiras tem prazo de validade curto e não sacia nenhuma vontade. O amor não tem código de barras também. E nem dá para rotular. Pelo menos, nunca conheci ninguém que tenha tido sucesso fazendo isso.
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O amor só se compra com amor. E no preço cheio. Ele nunca está disponível na liquidação.
Para os apressados, ele avisa que vai demorar para chegar. Imagino que seja daquelas coisas que você só esbarra quando está andando distraído por aí. Ele gosta de chegar de surpresa, inclusive. É difícil de encontrar e quando você encontra, é como se sempre tivesse estado ali. É estranho, mas costuma ser assim.
O amor não oferece flores; ele é a flor. O amor não vem para preencher um buraco. Ele só vem quando não falta mais nada, quando você já está com a mala no salão de embarque, pronto para voar. O amor não dá garantias. É tudo ou nada. Sempre. Não sei se já te avisaram isso. Eu não estou preparada ainda. É, ele chega e vai a hora que quer. É livre, livre. E leve também. Faz tudo parecer bolha de sabão.
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Tem gente que diz que é mágico. Ou faz tudo parecer mágico: cores, formas, sabores e texturas. Eu não sei muito, para falar a verdade. É tudo talvez. Ainda tenho muito a aprender, com Leloup ou com você, antes de sentar à mesa para esperar o meu pedido chegar.


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